As falácias de desinformação da Rússia não conseguem esconder estas duras realidades: (1) as sanções não se aplicam aos grãos da Rússia, (2) os grãos da Ucrânia são essenciais para o adequado fornecimento a países de baixa renda, (3) a Rússia não tem capacidade para repor o suprimento de grãos da Ucrânia, (4) o Kremlin está em vias de destruir mais grãos do que os que ofereceu doar e (5) a cada dia mais mísseis e drones alvejam intencionalmente os dutos graneleiros vitais que distribuem os grãos da Ucrânia para o resto do mundo, e que mantêm a estabilidade do preço dos alimentos.
“Moscou se evolveu em uma batalha pela catástrofe global: esses loucos precisam que o mercado mundial de alimentos colapse – eles precisam de crises de preços, eles precisam de interrupções na cadeia de abastecimento. Alguém por lá acredita que eles podem ganhar dinheiro com isso. Alguém lá em Moscou tem a esperança de que eles possam ganhar dinheiro com isso. Essas são expectativas muito, muito perigosas.” – Volodymyr Zelenskyy, presidente da Ucrânia, 2 de agosto de 2023
No dia 17 de julho de 2023, a Rússia se retirou da Iniciativa Grãos do Mar Negro (BSGI, na sigla em inglês) utilizando-se de falsos pretextos. Esse ato unilateral suspendeu o acordo que trouxe aproximadamente 33 milhões de toneladas de grãos para exportação nos mercados globais, com bem mais da metade desses grãos e dois terços do trigo que chegam aos países em desenvolvimento. Trata-se do equivalente a 18 bilhões de pães de forma. Alguns dias depois, o preço mundial dos grãos se elevou em 17%, enquanto a Rússia anunciava recordes em exportação de grãos. O Kremlin posicionou o mercado visando extorquir um preço elevado para si mesmo, às custas dos mais vulneráveis do mundo, enquanto escala seus ataques contra os portos e os grãos da Ucrânia. A Rússia, repetidamente, se utiliza de desinformação na tentativa de desacreditar a BSGI, e ameaçou sua retirada enquanto a Iniciativa se encontrava em vigor, de julho de 2022 até julho de 2023.
Depois da saída de Moscou da BSGI, o Kremlin continua a distorcer dados, negar fatos, e manipular números na tentativa de perpetuar cinco mitos falaciosos. Primeiro, o Kremlin tenta apresentar a Rússia como vítima de sanções impostas sobre exportações de grãos e fertilizantes, quando de fato as restrições da Rússia sobre suas próprias exportações e sua guerra ilícita contra a Ucrânia têm impedido os carregamentos. Segundo, Moscou alega falsamente que os países de baixa renda não se beneficiam da BSGI, quando de fato aproximadamente 20 milhões de toneladas dos grãos se destinaram a países em desenvolvimento. A Iniciativa também beneficia grandemente o Programa Mundial de Alimentação (PMA) da ONU, estabilizando os preços mundiais e encaminhando os suprimentos de grãos da Ucrânia para os países que mais precisam deles. Terceiro, o Kremlin dissemina alegações manipulativas que buscam reduzir a importância dos grãos da Ucrânia para o abastecimento mundial de alimentos, enquanto trabalha visando ativamente destruir a capacidade da Ucrânia de exportar grãos que poderiam alimentar milhões de pessoas no mundo todo. Quarto, Moscou tenta se apresentar como um benfeitor magnânimo e garantidor global da segurança alimentar, quando na verdade a Rússia está na distante 34a posição como contribuidor do PMA, mesmo quando tem a expectativa de colheitas recordes. Quinto, enquanto o Kremlin alega falsamente que o corredor de segurança da BSGI propiciou cobertura para atividades militares ucranianas, a Rússia intensificou os ataques a estruturas civis portuárias da Ucrânia, já tendo destruído 220 mil toneladas de grãos, segundo o governo ucraniano, o que demonstra o motivo verdadeiro do Kremlin: cortar a corda vital de segurança econômica da Ucrânia.
As distorções e falsidades matemáticas do Kremlin não conseguem esconder os fatos. A Federação Russa lançou uma guerra não provocada, injustificada e ilícita contra a Ucrânia. O Kremlin continua bloqueando os portos da Ucrânia e colocando em perigo embarcações civis de carga que transportam alimento, enquanto os ataques da Rússia com mísseis destroem silos de grãos e centros de transportes da Ucrânia. A retirada de Moscou da BSGI eleva os preços dos grãos da Rússia e enche os cofres da guerra de Moscou, às custas dos mais vulneráveis do mundo. A Rússia obterá lucros dessa elevação dos preços de alimentos e da sua abundante colheita recorde, enquanto elimina o seu maior competidor e força o mundo a esquecer da vital contribuição da Ucrânia ao alimentar as pessoas mais necessitadas do mundo. Na realidade, a Rússia é o único agressor, tentando bloquear o fluxo vital de grãos até os povos mais necessitados.
A utilização da fome como arma
A guerra não provocada e injustificada do Kremlin contra a Ucrânia prejudicou seriamente a economia da Ucrânia e exacerbou a insegurança alimentar global, especialmente nos países em desenvolvimento. A Ucrânia tem sido por muito tempo o “celeiro da Europa,” alimentando milhões no âmbito mundial. Ela era o principal fornecedor de grãos para dezenas de países da África e do Oriente Médio em 2021. Desde a invasão russa em larga escala, em fevereiro de 2022, a Rússia mantém bloqueadas as rotas comerciais da Ucrânia através do Mar Negro, tem minado campos agrícolas da Ucrânia, queimado colheitas, destruído suprimentos de armazenamento de alimentos da Ucrânia, criado escassez de mão-de-obra, e atacado embarcações de transporte comercial e portos. A Rússia tem também se apropriado ilegalmente dos grãos da Ucrânia, obtendo lucro para si mesma. Conforme relatou a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, a guerra do Kremlin contra a Ucrânia “afetou a produção e o comércio agrícola na região do Mar Negro e desencadeou um aumento sem precedentes do preço internacional de alimentos na primeira metade do ano de 2022”.
Em julho de 2022, as Nações Unidas e a Turquia intermediaram a Iniciativa Grãos do Mar Negro (BSGI) a fim de viabilizar “a navegação segura das exportações de grãos e de produtos alimentícios correlatos e fertilizantes” desde os portos da Ucrânia, com fins de garantir que os gêneros alimentícios e fertilizantes comerciais cheguem aos mercados mundiais. Os esforços vigorosos da Turquia e da ONU foram uma jogada diplomática de mestre. Kiev e (até julho de 2023) Moscou participaram da BSGI e a Iniciativa se mostrou essencial na redução da inflação dos preços no mercado mundial de alimentos, e provendo os grãos urgentemente necessários para a população em todo o mundo.
Falácias, matemática e orientações falaciosas na Cúpula Rússia-África
Embora a BSGI tenha estado em vigor de julho de 2022 até julho de 2023, a Rússia se utilizou repetidamente de desinformação e falsos pretextos na tentativa de desacreditar o acordo e ameaçar sua retirada. Conforme o Centro de Engajamento Global detalhou anteriormente em seu Boletim de maio de 2023, A Rússia precisa cessar seus ataques contra a segurança alimentar, o Kremlin vem executando a armamentização da segurança alimentar global e propagado falsidades, enquanto busca tirar lucro da crise de alimentos por si exacerbada com sua invasão da Ucrânia em larga escala. Depois da retirada da Rússia da BSGI, o presidente Vladimir Putin e o ecossistema de desinformação e propaganda do Kremlin sacudiram a poeira das falsas e desgastadas narrativas, e introduziram outras, novas e prosaicas, disseminando-as de forma proeminente na Cúpula Rússia-África em São Petersburgo, em julho de 2023.
Primeira falácia: “A Rússia é uma vítima das sanções impostas sobre alimentos e fertilizantes.”
Moscou tem persistentemente propagado a narrativa falsa de que as sanções impostas contra a Rússia, devido à sua guerra voluntária e ilícita contra a Ucrânia, impediram exportações russas de alimentos e fertilizantes, inclusive nos termos da BSGI. Autoridades e meios de comunicação estatais russos reciclam regularmente falsas alegações de que as sanções, dos EUA e da UE, contra a Rússia “bloquearam todos os meios possíveis” de transporte de grãos e fertilizantes russos. No processo que levou à Cúpula Rússia-África, Putin alegou novamente que “nenhuma das isenções das sanções foram aplicadas aos grãos e fertilizantes russos”, enquanto se vangloriava simultaneamente de que a Rússia exportou aproximadamente o mesmo montante de produtos derivados de grãos para a África, na primeira metade do 2023, que o montante durante o ano todo de 2022, embora reclamando dos obstáculos inexistentes.
A verdade é que os Estados Unidos não impuseram sanções sobre as exportações de alimentos e fertilizantes russos. As Nações Unidas trabalharam com o setor privado e com os Estados Unidos, a União Europeia e o Reino Unido com o intuito de esclarecer qualquer preocupação manifestada pela Rússia. Esses países emitiram orientações abrangentes para explicar as exceções relativas a alimentos e fertilizantes russos nas suas sanções.
O fato é que a Rússia restringiu a si mesma. Nos meses que se seguiram à invasão em grande escala da Ucrânia, e antes da entrada em vigor da BSGI, a Rússia restringiu suas próprias exportações, manipulando os mercados globais e bloqueando as exportações de alimentos da Ucrânia, a fim de maximizar os lucros às custas das populações mais vulneráveis do mundo.
Os dados falam por si mesmos. A Rússia se beneficiou no escopo da BSGI. Enquanto a BSGI esteve em vigor, a Rússia exportou 56 milhões de toneladas de derivados de grãos, auferindo US$ 41 bilhões nesse processo. Os Estados Unidos e seus aliados apoiam fortemente os esforços da ONU, de levar ambos, os grãos da Ucrânia e da Rússia para os mercados globais, a fim de reduzir o impacto da guerra não provocada da Rússia contra a Ucrânia nos estoques e nos preços de alimentos globalmente. Como resultado, os lucros da Rússia com fertilizantes dispararam em 2022, segundo dados da ONU. A Rússia também está se beneficiando de vendas recordes de trigo. Suas exportações de trigo “se aproximaram de valores recordes” até dezembro de 2022, segundo especialistas e o grupo de comércio de exportadores de grãos da Rússia. A Rússia exportou 45,5 milhões de toneladas de trigo, 27% acima do ano anterior.
A Rússia auferiu elevados lucros da exportação de produtos agrícolas, em grande parte como resultado da elevação dos preços globais das commodities, causados pela guerra de Putin. Depois da saída da Rússia da BSGI, em julho de 2023, os preços globais de grãos se elevaram drasticamente em 17%, punindo as populações mais vulneráveis do mundo nesse processo. Depois da saída da Rússia, Moscou disseminou desinformação visando desacreditar a BSGI, enquanto autoridades de alta patente do Kremlin e propagandistas patrocinados pelo Estado apelaram ao governo para a utilização da fome como arma.
Segunda falácia: “Nações de baixa renda não se beneficiam da Iniciativa Grãos.”
No processo que levou a Rússia a se retirar da BSGI, e nas semanas decorrentes desde então, o Kremlin vem distorcendo dados e disseminando narrativas manipulativas de que a BSGI não beneficiou os países mais necessitados. Em maio de 2023, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) da Rússia continuou a manipular informações com fins de desacreditar a BSGI, mesmo enquanto confirmava a extensão do acordo (do qual posteriormente se retirou). O MRE questionou o “componente humanitário” da BSGI, alegando que as nações menos desenvolvidas não se beneficiam da Iniciativa, pois elas recebem supostamente apenas 2,5% dos grãos exportados. No dia 17 de julho de 2023, os meios de comunicação estatais da Rússia amplificaram os comentários do porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, sobre o “encerramento de fato” da BSGI, enquanto alegava que “os países mais pobres receberam menos do que todos”. Antes da Cúpula Rússia-África, os meios de comunicação estatais da Rússia ampliaram o artigo de 24 de julho, de Putin, que reciclava a desinformação sobre a geografia da distribuição de carregamentos nos termos da BSGI, visando acusar falsamente os Estados Unidos e seus aliados de se utilizarem da Iniciativa “apenas para o enriquecimento de grandes empresas nos EUA e na Europa”, enquanto eles abastecem escassamente os países em desenvolvimento. Em seu discurso de 27 de julho, no dia de abertura da Cúpula Rússia – África, o presidente Putin distorceu ainda mais os dados da BSGI disponíveis publicamente, alegando que mais de 70% dos produtos alimentícios, exportados através da BSGI, foram para países com renda acima da média, enquanto “os países de baixa renda como a Etiópia, o Sudão, a Somália (…) receberam menos de 3% do volume total”.
Ao contrário do alegado pela Rússia, a BSGI vem assistindo povos necessitados ao entregar diretamente os tão necessários grãos da Ucrânia para países de baixa renda, e ao reduzir globalmente o preço dos alimentos. Cada carregamento, nos termos da BSGI, reduziu dificuldades ao entregar os grãos nos mercados e ao reduzir os preços para todos. Os preços mais baixos permitiram que o Programa Mundial de Alimentação (PMA) da ONU comprasse mais grãos, tudo isso em benefício de países de baixa renda. Segundo o Centro de Coordenação Conjunta da Iniciativa Grãos do Mar Negro da ONU, mais de mil embarcações deixaram os portos da Ucrânia e entregaram aproximadamente 33 milhões de toneladas de grãos e produtos alimentícios para 45 nações, sendo que 57% do carregamento alcançou países em desenvolvimento, de renda baixa ou média, na África e na Ásia, e 65% do trigo ucraniano alcançou países em desenvolvimento, incluindo 19% para os “países mais pobres e menos desenvolvidos”. A grande maioria da colheita ucraniana, enviada para a Turquia (o terceiro maior recipiente), foi então reprocessada e exportada como farinha para países da África e do Oriente Médio.
A manipulação matemática de Putin também ignora egoisticamente o fato de que a Ucrânia abasteceu o PMA com mais de 80% de seu trigo, até julho de 2023, nos termos da BSGI, acima dos 50% de 2021, antes da invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia. A BSGI viabilizou o transporte de 29 carregamentos ao PMA, incluindo 725 mil toneladas de trigo da Ucrânia, como assistência alimentar humanitária para Afeganistão, Djibuti, Etiópia, Quênia, Somália, Sudão e Iêmen. A BSGI teve imenso sucesso ao fazer aquilo que se propôs a fazer – evitar que os preços globais dos grãos se elevassem de forma drástica, enquanto levou alimento aos mais necessitados no âmbito mundial.
A Rússia alega falsamente que a BSGI não assiste os países em desenvolvimento, enquanto a própria Rússia faz muito pouco para assistir os países mais necessitados. O que Putin também não mencionou na Cúpula Rússia-África em julho de 2023 é que a Rússia ainda não ofereceu gratuitamente nenhum grão para o PMA, enquanto ela exporta amplamente seus grãos para países de renda alta ou média. Enquanto isso, a BSGI estabilizou mundialmente o preço dos grãos e forneceu o equivalente a 18 bilhões de pães de forma em exportação de trigo, com o equivalente a 11,5 bilhões de pães de forma chegando a países em desenvolvimento.
Terceira falácia: “A parte ocupada pela Ucrânia no mercado mundial de trigo pode ser substituída — pela Rússia.”
O presidente Putin continuou a manipular a matemática na Cúpula Rússia-África com uma nova narrativa falsa. Vangloriando-se da suposta colheita recorde da Rússia, Putin alegou que a Rússia “pode substituir” os grãos Ucrânia por meio de suas exportações e de auxílio disponibilizado, porque “a participação da Rússia no mercado de trigo é de 20% e a da Ucrânia, menos de cinco”. Para apoiar sua afirmação, Putin disse que em 2022 a Ucrânia exportou 47 milhões de toneladas de produtos derivados de grãos, das 55 milhões de toneladas colhidas, das quais 17 milhões eram de trigo, enquanto a Rússia exportou “60 milhões de toneladas das 156 milhões que colheu, das quais 48 milhões eram de trigo”. Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA, as exportações da Rússia são menores do que foi relatado por Putin — ficando mais próximas de 56 milhões de toneladas de grãos exportados, das 137 milhões de toneladas colhidas, com 45,5 milhões em exportação de trigo. Que apesar da invasão da Ucrânia pela Rússia e da contínua colocação de minas nos campos, e bombardeios contra os seus agricultores, a Ucrânia colheu 55 milhões de toneladas de grãos, e ainda exportou 85% da sua colheita, é um feito admirável de resiliência de agricultores e trabalhadores rurais da Ucrânia. O que Putin deixou de mencionar foi quanto trigo a Rússia utiliza para alimentar os russos, e não explicou porque a Rússia exportou apenas 38% dos seus grãos, nem porque, em 2023, apesar da colheita recorde, ela continua na distante posição 34a entre os doadores para o Programa Mundial de Alimentação que alimenta os mais vulneráveis do mundo. Sem uma resposta àquelas questões, a alegação da Rússia sobre poder substituir a Ucrânia nas exportações de grãos, especialmente para os países mais necessitados, não é crível.
A matemática falaciosa de Putin visa negar e apagar a função monumental da Ucrânia como um “celeiro” para o mundo. Antes da invasão russa em larga escala, a Ucrânia estava entre os maiores exportadores agrícolas do mundo. Ela era o maior exportador de óleo de semente de girassol, suprindo 50% do mercado mundial. Ela era o terceiro em cevada (participando com 18%), quarto em milho (participando com 16%), e o sexto maior exportador de trigo, exportando 8% do suprimento mundial. Em 2021, a Ucrânia exportou cereais no valor de U$12 bilhões, com 92% de seus produtos agrícolas alcançando a África e a Ásia. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, a guerra por decisão da Rússia contaminou mais de 12% das terras agrícolas da Ucrânia com minas terrestres. As áreas de maior produção de trigo na região sul da Ucrânia, como a região denominada Kherson, são também as mais devastadas pela guerra russa, especialmente em consequência da ruptura da barragem Nova Kakhovka e da enchente do dia 6 de junho de 2023. Em 2021, agricultores ucranianos semearam mais de 16 milhões de hectares (mais de 40 milhões de acres). Em 2022, a área plantada com grãos diminuiu para 11,6 milhões de hectares (28,6 milhões de acres), uma redução de pelo menos 28,5% de terra plantada, representando uma área quase tão ampla como a Bélgica. É esperado que a área plantada diminua ainda mais, para 10,2 milhões de hectares (25,2 milhões de acres) em 2023. Ao continuar essa guerra deliberada, suspendendo a Iniciativa Grãos do Mar Negro, bloqueando os portos ucranianos e posicionando minas terrestres nos campos agrícolas da Ucrânia, o Kremlin está buscando ativamente diminuir a participação da Ucrânia no mercado global de alimentos. Ao remover o seu competidor mais próximo, a Rússia se posiciona como a alternativa principal.
Quarta falácia: “A Rússia é um benfeitor magnânimo e garantidor de alimentos para os mais necessitados do mundo.”
Conforme Putin expôs sua visão de cooperação entre a Rússia e a África na Cúpula Rússia-África, em julho de 2023, ele descreveu a Rússia como o benfeitor magnânimo dos mais necessitados do mundo. Ele prometeu que, “nos próximos três a quatro meses, fornecerá gratuitamente 25 a 50 mil toneladas de grãos para Burquina Fasso, Zimbábue, Mali, Somália, República Centro-Africana e Eritreia.
Quaisquer contribuições para alívio da insegurança alimentar global são bem-vindas, mas devemos colocar a suposta magnanimidade de Putin dentro do contexto. Vinte e cinco mil toneladas equivale a 0,03% da colheita russa total de 2022, de 137 milhões de toneladas (e menos que isso se considerarmos a alegada colheita de Putin, de 156 milhões toneladas de grãos.) Se a Rússia cumprir o que prometeu, fornecendo 50 mil toneladas de grãos àqueles países, ou o total de 300 mil toneladas de grãos, isso equivaleria a 0,2% da colheita total da Rússia. Trezentas mil toneladas são menos de 1% do volume total exportado nos termos da BSGI, e menos da metade das 725 mil toneladas que a Ucrânia forneceu ao PMA por meio da BSGI.
Para contextualizar, os Estados Unidos forneceram mais de US$ 14,5 bilhões, desde junho de 2022, para abordar a insegurança alimentar e a assistência humanitária. Os Estados Unidos continuam sendo o maior contribuidor singular para esforços que abordam necessidades agudas e medianas, ou mesmo prolongadas, relativas à segurança alimentar no continente africano e, como anunciado pelo secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, no dia 3 de agosto, um adicional de US$ 362 milhões em assistência para o Haiti e 11 países africanos que enfrentam grave insegurança alimentar, exacerbada pela guerra da Rússia contra a Ucrânia e sua saída da BSGI, será fornecido este ano. Em julho de 2022, os Estados Unidos concederam US$ 476 milhões em assistência de urgência para a Somália, como auxílio a fim de evitar uma declaração de fome. Os Estados Unidos são também o maior doador para o Programa Mundial de Alimentação da ONU, e contribuíram com 50% do orçamento do PMA em 2022, mais de US$ 7,2 bilhões. Devemos apenas observar as contribuições feitas pela Rússia ao PMA para entendermos o quão alheio à insegurança alimentar global é o Kremlin. Desde julho de 2023, a Rússia é o 34o maior contribuidor para o Programa Mundial de Alimentação, atrás dos Estados Unidos (1o), da maioria dos outros Estados da Europa, vários países asiáticos, e de países como Honduras, Sudão do Sul, Guiné e Guiné-Bissau, entre outros. Em 2022, as contribuições russas totalizaram apenas 0,2% da assistência humanitária do PMA, apesar da colheita recorde e dos lucros de exportação.
Como disse o secretário-geral da ONU, Guterres, em reação à oferta “magnânima” de Putin, “um punhado de doações para alguns países” não pode repor os milhões e milhões de toneladas de grãos exportados através da BSGI, que ajudaram a estabilizar os preços dos alimentos no âmbito mundial.
Quinta falácia: “O corredor de segurança da BSGI concedeu cobertura para atividades militares ucranianas.”
Autoridades governamentais do Kremlin e seus propagandistas disseminam desinformação na tentativa de justificar ataques contra infraestrutura portuária ucraniana, instalações de armazenagem de grãos e embarcações comerciais de transporte de grãos, alegando que tais instalações civis tinham propósitos militares.
Depois da sua saída da BSGI, a Rússia escalou os ataques contra as exportações e infraestruturas de alimentos da Ucrânia. Autoridades russas e o ecossistema de desinformação e propaganda do Kremlin amplificaram os comentários feitos pelo porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, no dia 17 de julho, em relação à BSGI, alegando que Kiev “utilizou o acordo para propósitos militares.” O presidente da Duma Federal da Rússia, Vyacheslav Volodin, repetiu, dizendo: “Não podemos descartar a possibilidade do ataque terrorista à ponte da Crimeia ter sido executado sob o pretexto do corredor de segurança de grãos.” O canal Readovka, pró-Rússia, também especulou dizendo que “os drones marítimos responsáveis pelo ataque à ponte” podem ter sido mobilizados desde a “última embarcação a deixar o porto de Odessa, nos termos do acordo de grãos, como a embarcação turca Samsun”. No dia 20 de julho, o Ministério de Defesa (MOD) russo declarou que agora considerava todas as embarcações a caminho dos portos da Ucrânia no Mar Negro como possíveis transportadores de carga militar. Enquanto isso, a Rússia continua a atacar portos da Ucrânia e outras infraestruturas civis em Odessa e em outros lugares.
Os ataques da Rússia com drones e mísseis já destruíram grandes estoques de grãos que poderiam ter alimentado milhões de pessoas. A Rússia continua a executar ataques com mísseis tendo como alvo tanto os portos quanto a infraestrutura de grãos da Ucrânia. A Rússia está tentando bloquear os portos ucranianos no Mar Negro, que são responsáveis pela exportação de 95% dos grãos da Ucrânia. Um ataque contra uma instalação portuária em Odessa, no dia 20 de julho, destruiu 60 mil toneladas de grãos, suficientes para alimentar 270 mil pessoas por um ano, segundo o PMA. Os meios de comunicação estatais russos alegam falsamente que essas instalações armazenam equipamento militar estrangeiro; no entanto, evidências de vídeo mostram grãos, e não armas e munições, se derramando dos silos danificados. O ataque da Rússia, no dia 26 de julho, contra Chornomorsk, um porto que viabiliza aproximadamente 70% das exportações ucranianas de trigo para países em desenvolvimento, causou danos que, segundo a estimativa de peritos, levará no mínimo um ano para serem reparados.
Além dos bombardeios de Odessa, Mykolaiv e Chornomorsk, a Rússia começou a atacar os portos ucranianos no Rio Danúbio, junto de embarcações civis, armazéns e instalações de infraestrutura. Segundo autoridades ucranianas, no dia 2 de agosto de 2023, o ataque ao porto de Izamil, no Rio Danúbio, danificou 40 mil toneladas de grãos que se destinavam a países na África, bem como à China e a Israel. O Ministério de Relações Exteriores da Ucrânia relatou que Moscou atingiu 26 instalações portuárias, cinco embarcações civis e 180 mil toneladas de grãos em nove dias de ataques desde que se retirou da BSGI. Desde o dia 3 de agosto de 2023, a Rússia destruiu 220 mil toneladas de grãos armazenados em instalações portuárias da Ucrânia, que aguardavam transporte, em sua maioria destinados aos países mais pobres do mundo.
Embora o Kremlin finja estar “fazendo todo o esforço para evitar uma crise global de alimentos”, a Rússia está mais posicionada para destruir mais grãos, do que disposta a entregar alimentos aos mais vulneráveis do mundo.
Falácias do Kremlin vs. realidades globais
Depois de sua saída da BSGI, Moscou distorce dados, nega fatos e manipula a matemática na tentativa de se apresentar tanto como vítima das sanções, quanto como benfeitor magnânimo na crise global de segurança alimentar que exacerbou. O presidente Putin e autoridades do Kremlin minimizam a importância dos grãos da Ucrânia no abastecimento mundial de alimentos e ativamente destroem a capacidade da Ucrânia de exportar grãos que poderiam alimentar milhões de pessoas no mundo todo. Na verdade, a Rússia é o único agressor, tentando bloquear o fluxo vital de grãos até os povos mais necessitados, cuja exportação tinha sido coordenada de modo eficaz através da Iniciativa Grãos do Mar Negro e do Programa Mundial de Alimentação da ONU, antes da saída insensível da Rússia da Iniciativa.
As distorções de dados e falsidades matemáticas do Kremlin não conseguem esconder os fatos. O Kremlin lançou uma invasão não provocada e injustificada, de larga escala contra a Ucrânia. O Kremlin continua bloqueando os portos ucranianos e pondo em risco as embarcações civis de transporte de alimentos. Os ataques com mísseis do Kremlin têm destruído silos de grãos na Ucrânia, bem como seus centros de transporte. A saída de Moscou da BSGI eleva os preços dos grãos da Rússia e enche os cofres da guerra às custas dos mais vulneráveis do mundo. A Rússia obterá lucros dessa elevação nos preços de alimentos e da sua abundante colheita recorde, enquanto tenta eliminar o seu maior competidor, e força o mundo a esquecer a vital contribuição da Ucrânia em relação a alimentar o mundo.
O Kremlin está utilizando a fome como arma. Putin alega falsamente estar “resolvendo” um problema que ele mesmo exacerbou com essa invasão não provocada, injustificada, de larga escala da Ucrânia, e ao atacar armazéns de suprimentos e centros de transporte de grãos da Ucrânia. Na década de 1930, Stalin usou a fome como pretexto para atacar a Ucrânia, causando a morte de milhões de ucranianos. Quase um século depois, outro cidadão cruel do Kremlin está usando a fome como arma contra o mundo.
Como Antony Blinken, secretário de Estado dos EUA, apelou ao Conselho de Segurança da ONU no dia 3 de agosto de 2023: “Cada membro deste Conselho, cada membro das Nações Unidas, deveria dizer a Moscou: basta; chega de utilizar o Mar Negro como chantagem; chega de utilizar os mais vulneráveis do mundo como oportunidade; chega desta guerra não justificável e injusta.” A Rússia iniciou deliberadamente essa guerra que exacerbou a crise alimentar global. A Rússia pode decidir pelo fim dela.
Veja o conteúdo original: https://www.state.gov/russias-war-on-ukraines-grain-and-global-food-supply-in-five-myths/
Esta tradução é fornecida como cortesia e apenas o texto original em inglês deve ser considerado oficial.