HomePara difamar a Ucrânia, o Kremlin recorre ao antissemitismo hide Para difamar a Ucrânia, o Kremlin recorre ao antissemitismo 11 de Julho de 2022 Uma das narrativas de desinformação mais comuns do Kremlin para justificar sua guerra devastadora contra o povo da Ucrânia é a mentira de que a Rússia está buscando a “desnazificação” da Ucrânia. O presidente russo, Vladimir Putin, referiu-se ao governo democraticamente eleito da Ucrânia como uma “gangue de viciados em drogas e neonazistas”, enquanto a mídia estatal russa e os propagandistas pediram reiteradamente a “desnazificação” de toda a população da Ucrânia. Ao evocar o nazismo e os horrores associados à Segunda Guerra Mundial e ao Holocausto, o Kremlin espera deslegitimar e demonizar a Ucrânia aos olhos do público russo e do mundo. O Kremlin tenta manipular a opinião pública internacional ao traçar falsos paralelos entre a agressão de Moscou contra a Ucrânia e a luta soviética contra a Alemanha nazista, uma fonte de orgulho e unidade para muitas pessoas das ex-repúblicas soviéticas que fizeram enormes sacrifícios durante a Segunda Guerra Mundial, incluindo ambos ucranianos e russos. Mais de 140 historiadores internacionais têm denunciado a “equiparação que a Rússia faz entre o Estado ucraniano com o regime nazista visando justificar sua agressão não provocada”, chamando a propaganda de Moscou de “factualmente errada, moralmente repugnante e profundamente ofensiva” para as “vítimas do nazismo e aqueles que corajosamente lutaram contra isso.” As renomadas instituições de memória do Holocausto Yad Vashem e o Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos também condenaram as “comparações completamente imprecisas da Rússia com a ideologia e as ações nazistas” e as falsas alegações de que “a Ucrânia democrática precisa ser ‘desnazificada'”. Atacando o presidente judeu da Ucrânia Os propagandistas do Kremlin têm achado difícil vender o pretexto fabricado de “desnazificação” para a guerra na Ucrânia a muitas pessoas fora da Rússia. Eles têm recorrido a justificativas cada vez mais ridículas — e muitas vezes autocontraditórias. Quando os críticos apontam que o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, que venceu a eleição de 2019 na Ucrânia com 73% dos votos, é judeu, com familiares que foram mortos pelos nazistas, o Kremlin dissemina narrativas falsas tentando deslegitimar sua identidade judaica. O Kremlin afirma falsamente que os piores nazistas eram, na verdade, judeus e procura minimizar o papel do antissemitismo na ideologia nazista. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, visita o Muro das Lamentações na Cidade Velha de Jerusalém em 23 de janeiro de 2020 (Fonte: https://www.president.gov.ua/en/news/volodimir-zelenskij-vidvidav-stinu-plachu-ta-doluchivsya- do-59429) Dmitri Medvedev, ex-presidente corrupto da Rússia e vice-presidente do Conselho de Segurança do país, argumentou que Zelenskyy “perdeu” sua identidade judaica. Um dos propagandistas mais proeminentes do Kremlin, Vladimir Solovyov, chegou a alegar que Zelenskyy não era realmente judeu, enquanto os associados de Solovyov e a mídia estatal acusavam falsamente o presidente da Ucrânia de trair sua família e ancestrais judeus. Em maio, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, tentou rebater à pergunta de um jornalista italiano sobre a ascendência de Zelenskyy com um discurso conspiratório antissemita e uma distorção do Holocausto, especulando que Adolf Hitler “também tinha sangue judeu” e acrescentando que “o sábio povo judeu diz que os antissemitas mais ardentes são geralmente judeus”. Autoridades do governo de Israel exigiram imediatamente um pedido de desculpas pelas observações “imperdoáveis e ultrajantes” de Lavrov e “mentiras (…) destinadas a culpar os próprios judeus” pelo Holocausto. Yair Lapid, ministro das Relações Exteriores de Israel à época, escreveu que “o nível mais baixo de racismo contra os judeus é acusar os próprios judeus de antissemitismo”. O Ministério das Relações Exteriores da Rússia (MFA) posteriormente reforçou [o discurso conspiratório], acusando Israel de fazer “declarações anti-históricas” e alegando que Israel apoia um “regime neonazista em Kiev”. Bem antes do pronunciamento de Lavrov, os meios de comunicação russos ligados à inteligência e os propagandistas do Kremlin há muito têm disseminado desinformação e propaganda atacando o judaísmo de Zelenskyy e as relações da Ucrânia com Israel. Contrariando a desinformação mais recente, Sergey Glazyev, ex-assessor econômico do presidente Putin, acusou Zelenskyy em 2019 de planejar substituir a população de língua russa das partes leste e sul da Ucrânia por judeus israelenses. Defendendo o indefensável Após o pronunciamento de Lavrov, Solovyov e outros especialistas da televisão estatal russa afirmaram que o nazismo não implica necessariamente antissemitismo, mas pode, em vez disso, refletir a chamada “russofobia”. O ecossistema de desinformação e propaganda da Rússia procurou então apoiar as falsas alegações das autoridades, atacando ainda mais Zelenskyy, alegando as supostas origens judaicas de Hitler e tentando desacreditar os líderes israelenses. Um canal de desinformação ligado à inteligência militar russa, One World, descreveu os críticos de Lavrov como racistas “semelhantes a Hitler” por sugerirem que “a identidade etnorreligiosa de uma pessoa no nascimento” predetermina as visões políticas dessa pessoa. Lançando o insulto nazista como uma técnica de propaganda Não há melhor maneira de entender a propaganda e a desinformação do Kremlin do que “espreitar por trás da cortina” e ver o que se passa no interior do aparato. Em 5 de junho, o Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) publicou o que identificou como um relatório do Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB) sobre temas de desinformação que o governo russo deve promover para melhorar o “apoio informativo-propagandístico” de sua “operação militar especial” na Ucrânia. O FSB concluiu que a Rússia havia apoiado inadequadamente a alegação de “desnazificação” e recomendado uma “injeção maciça” de alegações acusando nacionalistas ucranianos de matar crianças na chamada “República Popular de Donetsk” e “República Popular de Luhansk” — regiões do leste da Ucrânia das Províncias de Donetsk e Luhansk que a Rússia controla desde 2014. O FSB também pediu a criação de uma “rede de propagandistas” a fim de espalhar as mentiras, incluindo o uso de veteranos russos e ucranianos da Segunda Guerra Mundial em vídeos encenados onde os participantes apelariam à Rússia para “acabar com o fascismo na Ucrânia.” Por fim, o FSB recomendou estabelecer grupos de frente “antifascistas” no espaço pós-soviético e atacar a União Europeia com desinformação, alegando que a vida na Europa está piorando por causa de seu apoio aos “nazistas” ucranianos. Narrativas inconcebíveis O presidente Putin e seu aparato de desinformação e propaganda exploram a memória histórica da luta soviética contra a Alemanha nazista com o intuito de fabricar um pretexto para sua guerra brutal não provocada contra a Ucrânia. Visando servir a seus fins predatórios, o Kremlin está explorando o sofrimento e o sacrifício de todos aqueles que vivenciaram a Segunda Guerra Mundial e sobreviveram ao Holocausto. Durante o processo, o Kremlin está prejudicando os esforços globais de importância crucial a fim de combater o antissemitismo e, em vez disso, está propagando uma das formas mais insidiosas do antissemitismo, a distorção do Holocausto. Com o antissemitismo em ascensão em todo o mundo, é imperativo que todos denunciem esse tipo particularmente pernicioso de desinformação russa. Tags Antisemitism Disinformation Russia Ukraine