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DEPARTAMENTO DE ESTADO DOS EUA
Escritório do Porta-Voz
20 de outubro de 2021

Universidade San Francisco de Quito
Quito, Equador

SECRETÁRIO BLINKEN: Buenos días a todos. Gracias, Marcela. Muito obrigado. E quero agradecer a você também pelo trabalho notável que você tem feito a fim de tentar construir maior transparência, maior responsabilidade.

E a todos aqui, obrigado, obrigado, obrigado por estarem aqui esta manhã. Quero agradecer à nossa gentil anfitriã, a Universidade San Francisco de Quito. Que lugar espetacular, espetacular. Obrigado. [Aplausos.]

Permitam-me começar contando por que vim aqui, ao Equador, em minha primeira visita como secretário para a América do Sul. Há um fio condutor que permeia cada parte da política dos Estados Unidos, interna e externa, e que está trabalhando visando fazer a democracia funcionar para todas as pessoas.

Esse é o foco desta viagem também. Porque a capacidade de nossas democracias de fechar a lacuna entre o que prometemos e o que realizamos depende em grande parte do que fazemos, juntos, para melhorar. E esse “nós” inclui não apenas governos, mas as pessoas a quem servimos.

E há algo importante a ser aprendido com o Equador; com a Colômbia, para onde vou viajar a seguir; e com a região de forma mais ampla — quando se trata de compreender os desafios que as democracias enfrentam e como podemos superá-los.

Permitam-me começar com um exemplo. Considere um país onde um líder é eleito em uma eleição livre e justa, e então começa a desbastar lenta, mas seguramente os pilares da democracia — atacando a imprensa livre, minando a independência dos tribunais, ameaçando oponentes políticos.

Ora, imagine que o líder então busque usar as alavancas da democracia para aprovar reformas antidemocráticas — eliminando limites de mandato, superlotando tribunais com juízes que possuem a mesma orientação ideológica, demitindo legisladores. Essa é a história de mais de uma democracia em nosso hemisfério. E é uma das maneiras das quais democracias podem ser desfeitas.

Uma década atrás, foi o Equador.

No entanto, no final das contas, esse esforço não teve sucesso. Por quê? Instituições como os tribunais e o Conselho Eleitoral reagiram. E também defensores dos direitos humanos, jornalistas e outros defensores da sociedade civil, incluindo professores e alunos desta universidade, que contestaram as reformas nos tribunais. E mesmo quando foram publicamente difamados, ameaçados, atacados, eles persistiram.

Além disso, dezenas de milhares de equatorianos foram às ruas para protestar — sindicalistas, jornalistas, estudantes, indígenas, alguns dos quais fizeram uma caminhada de 700 km a pé da Amazônia a Quito. E mesmo quando foram espancadas, presas pela polícia, as pessoas continuaram protestando.

E enquanto o presidente na época conseguiu aprovar uma série de projetos de lei antidemocráticos ao longo dos anos, outros foram bloqueados, derrubados, retirados em face de apoio insuficiente. A democracia perseverou.

Outro exemplo: na primavera de 2020, com grande parte do mundo em lockdown em resposta à pandemia, a Covid-19 invadiu o Equador. Em Guayaquil, a taxa de mortalidade disparou nove vezes. Hospitais foram forçados a recusar os moribundos. Corpos foram deixados nas calçadas por dias. Um fabricante local começou a fazer caixões de papelão, porque os necrotérios ficaram sem caixões de madeira.

A emergência de saúde pública foi agravada por alguns que buscavam lucrar com a escassez de suprimentos médicos vitais do Equador, como máscaras, respiradores e desinfetantes. Em abril deste ano, o vírus aumentou novamente, e o Equador teve a maior taxa de Covid-19 em nosso hemisfério.

Essa é outra maneira da qual as democracias podem ser desfeitas: deixando de atender às necessidades de vida ou morte dos cidadãos em uma emergência.

Mas, mais uma vez, as coisas mudaram.

A imprensa livre e vibrante do Equador destacou o problema de saúde pública e a corrupção que contribuíram para isso.

A procuradora-geral do país conduziu uma investigação rigorosa que revelou evidências de conluio entre autoridades de saúde e criminosos visando vender sacos para cadáveres a hospitais por 13 vezes o preço. Vários ex-funcionários foram, por fim, indiciados.

E, no início deste ano, mais de 80% da população do Equador votou em uma eleição que levou a uma transferência pacífica de poder entre os partidos. O novo governo prometeu vacinar mais da metade da população do país nos primeiros cem dias e — juntamente com profissionais de saúde, líderes comunitários, empresas e muitos outros — atingiu a meta antes do prazo.

Aproximadamente 40 mil pessoas foram vacinadas não muito longe de onde estamos reunidos hoje, na arena da universidade, com a ajuda de funcionários da universidade e estudantes voluntários. E mais equatorianos estão sendo vacinados todos os dias. Hoje, mais de 11,1 milhões de pessoas receberam sua injeção.

Isso também demonstrou aos equatorianos que as democracias podem ajudar a abordar alguns dos maiores desafios que enfrentam — e fazê-lo abertamente, para o benefício de todos. Isso é muito importante em um momento em que a confiança na democracia — em nosso hemisfério e em todo o mundo — está diminuindo.

Para quem está de fora, olhando para o histórico das democracias nas Américas nas últimas décadas, a perda de confiança pode ser difícil de entender. Já se passaram duas décadas desde que nossas nações se comprometeram a promover e defender a democracia na região por meio da Carta Democrática Interamericana. Países assumiram esse compromisso não porque foram pressionados ou por conformidade ideológica, mas porque vários países da região tentaram proporcionar desenvolvimento social e econômico através de sistemas não democráticos, e fracassaram.

E embora haja algumas exceções, em geral, governos democráticos da região têm proporcionado um período de prosperidade, segurança e estabilidade sem precedentes. A classe média da América Latina tem crescido continuamente, à medida que o número de pessoas que vivem na pobreza foi reduzido pela metade. Os padrões de vida e o acesso à educação aumentaram. A mortalidade infantil e a mortalidade materna diminuíram.

E, no entanto, para muitas pessoas que vivem em democracias nas Américas, não parece que o governo está fazendo o suficiente visando resolver os maiores problemas que enfrentam ou acompanhar suas expectativas e suas aspirações.

As economias têm crescido, mas também a desigualdade. E o crescimento econômico muitas vezes se baseia na devastação ambiental, contribuindo para a crise climática que vivenciamos agora.

Além do mais, o aumento do PIB, o aumento dos mercados de ações não vieram acompanhados de um aumento no apoio e na proteção de que as famílias trabalhadoras precisam para prosperar em uma economia global cada vez mais competitiva, como creches a preços acessíveis e um salário mínimo. Não criou uma rede de segurança que acolhe as pessoas quando a fábrica onde trabalham fecha, ou quando têm de faltar ao trabalho para cuidar de um filho ou de um progenitor doente.

Todos esses problemas foram agravados pela Covid-19, que atingiu esta região com mais força do que qualquer outra e ressaltou o quão vulneráveis são os ganhos das últimas décadas. A América Latina e o Caribe representam cerca de 8% da população mundial, mas a região tem 32% das mortes relacionadas à Covid-19 no mundo. Se você adicionar os Estados Unidos, somos responsáveis por mais da metade — mais da metade — das mortes por Covid-19 no mundo.

Os efeitos econômicos também têm sido devastadores. A economia da América Latina contraiu quase 8% no ano passado — novamente, o maior declínio de qualquer região do mundo — e o número de pessoas que vivem na pobreza aumentou em 22 milhões. As escolas da região ficaram fechadas por mais tempo do que qualquer outra, sendo que duas em cada três crianças ainda não voltaram às salas de aula.

E, como em todas as partes do mundo, as comunidades desassistidas e marginalizadas são as mais afetadas. Aqui no Equador, isso significa comunidades indígenas, afrodescendentes, mulheres e meninas, pessoas LGBTQI, pessoas de baixa renda, a maioria das quais trabalha no setor informal.

Ao turbinar todos esses problemas de longa data, a Covid-19 acelerou o ceticismo entre os cidadãos de que a democracia pode oferecer quando é mais importante. No ano passado, 70% dos latino-americanos estavam insatisfeitos com a forma como a democracia funciona — cerca de 50% em 2013. E não são apenas nossos parceiros que estão passando por isso. Em meu país, nos Estados Unidos, quase 60% das pessoas estão insatisfeitas com a forma como a democracia funciona.

Portanto, nós nos encontramos em um momento de ajuste de contas democrático. E a questão para todos nós que acreditamos na democracia e que acreditamos que sua sobrevivência é vital para nosso futuro compartilhado, a questão é: o que podemos fazer para que as democracias cumpram as questões que mais importam para as pessoas?

Então, hoje, com sua licença, gostaria de destacar três questões que os Estados Unidos consideram extremamente importantes a fim de atender a esse chamado, especialmente para o nosso próprio hemisfério. São áreas para as quais apresentaremos ideias, mas tão importantes quanto, viemos ouvir com humildade.

A humildade é, em parte, porque sabemos que há muito a aprender com nossos vizinhos e, em parte, porque sabemos que os Estados Unidos nem sempre praticaram o que pregaram em nosso hemisfério, que há momentos em nossa história em que apoiamos governos nas Américas que não refletiram a escolha ou a vontade de seu povo e não respeitaram seus direitos humanos.

O primeiro desafio — Marcela falou sobre isso — o primeiro desafio é a corrupção, que é uma realidade diária para pessoas em todo o mundo, inclusive nas Américas. Estima-se que a corrupção custe até 5% do PIB global. Sufoca o crescimento, desencoraja o investimento e aprofunda as desigualdades. Mas talvez seu maior dano seja na confiança dos cidadãos no governo.

Na verdade, se olharem para a vasta maioria dos levantes civis de base ampla ao redor do mundo nos últimos anos — Maidan na Ucrânia, Praça Tahrir no Egito; da Romênia à Tunísia, do Sudão à Guatemala — vocês encontrarão em seu cerne uma repulsa total à corrupção.

Afeta as pessoas em todos os aspectos de suas vidas diárias e drena recursos do Estado que poderiam ser gastos e dedicados a uma escola, a um hospital, a algo que realmente melhora a vida das pessoas.

Portanto, os Estados Unidos estão se concentrando em como podemos lutar mais eficazmente contra a corrupção, que o presidente Biden designou pela primeira vez como um interesse central da segurança nacional dos EUA. Estamos reprimindo o financiamento ilícito, apreendendo e congelando ativos roubados e tornando mais difícil para aqueles que roubam se esconderem no anonimato.

Estamos fortalecendo as ferramentas de que dispomos com o intuito de responsabilizar indivíduos e grupos corruptos, desde sanções anticorrupção direcionadas; a ações de aplicação da lei nos âmbitos penal e civil; a negar vistos a autoridades corruptas e seus familiares.

Essas ferramentas nos ajudarão a aumentar o custo da corrupção muito além de nossas fronteiras.

Mas, como a corrupção não tem fronteiras e os atores corruptos são muito hábeis em explorar os elos mais fracos de nosso sistema global interconectado, nenhum país pode combater a corrupção de forma eficaz sozinho, ou mesmo apenas com a ajuda de outros governos. Precisamos de parceiros anticorrupção fortes em todos os lugares — e em todos os campos.

É por isso que estamos desenvolvendo novas ferramentas e programas a fim de aprimorar a capacidade de governos parceiros, jornalistas investigativos, ativistas anticorrupção e empresas. É por isso que estamos aprofundando nossa colaboração com a União Europeia, o G7, a OCDE e outros grupos de países que compartilham nosso compromisso de combater esse flagelo. E é por isso que nós e nossos parceiros devemos nos ater ao Compromisso de Lima firmado na Cúpula das Américas de 2018, onde todos prometemos promover uma governança democrática contra a corrupção de maneiras concretas.

Em todos esses esforços, estamos analisando o que funciona melhor no combate à corrupção — uma questão no centro de uma revisão abrangente que agências em todo o governo dos EUA estão realizando atualmente por instrução do presidente Biden. O que aprendermos ajudará a orientar como focamos nossa energia e nossos recursos no futuro — internamente, nas Américas, em todo o mundo.

O segundo desafio é a segurança civil. Durante décadas, os Estados Unidos vêm fazendo grandes investimentos na redução da violência no hemisfério por meio do combate às organizações criminosas transnacionais. E por um bom motivo: a América Latina e o Caribe integram a região mais violenta do mundo.

Mas nosso histórico de firmar parceria com as democracias da região a fim de melhorar a segurança civil tem sido mista. Isso porque muitas vezes tentamos consertar esse problema ao depender demais em treinar e equipar as forças de segurança, e muito pouco em outras ferramentas em nosso kit. E nos concentramos muito em abordar os sintomas do crime organizado, como homicídios e tráfico de drogas, e muito pouco nas causas subjacentes. Estamos trabalhando para corrigir esse desequilíbrio.

Estamos fazendo mais visando expandir as oportunidades econômicas, especialmente para as populações desassistidas que podem ser atraídas para atividades ilícitas porque sentem que não têm outra escolha. Estamos aumentando nosso investimento em prevenção, tratamento e recuperação do abuso de substâncias para aqueles que lutam contra o vício — tanto a fim de reduzir o dano profundo que as drogas ilícitas infligem em nossas comunidades, quanto para reduzir a demanda nos Estados Unidos, que alimenta tanta violência e atividade criminosa. Estamos apoiando esforços comunitários de prevenção da violência, que capacitam os atores locais que se veem presos entre organizações criminosas violentas e forças de segurança abusivas, e [os esforços] lhes dão as ferramentas a fim de reparar o tecido social de suas comunidades. E continuamos a investir no fortalecimento do Estado de Direito, capacitando promotores e juízes, que são cruciais para investigar e processar judicialmente esses casos.

Essa ênfase nas causas principais está no centro de uma série de diálogos de alto nível sobre economia e segurança que convocamos nas últimas semanas com o governo do México. A gama de líderes sêniores de ambos os países que participaram — oriundos de justiça, relações comerciais, tesouro, comércio, desenvolvimento, segurança interna e política externa — reflete a abordagem abrangente que agora estamos determinados a adotar. Nós e nossos parceiros na Colômbia levaremos uma abordagem semelhante para o Diálogo de Alto Nível de amanhã.

E, como discuti com o presidente Lasso ontem, acreditamos que uma abordagem holística semelhante à segurança do cidadão — uma que não dependa excessivamente das forças de segurança — provavelmente também será eficaz aqui no Equador.

Vimos o estado de exceção declarado pelo presidente Lasso no início desta semana, e o presidente e eu tivemos a oportunidade de discutir isso ontem. Para os Estados Unidos, deixei claro que entendemos que há momentos em que as democracias precisam adotar medidas excepcionais a fim de garantir a segurança de seus cidadãos. Mas é essencial equilibrar essa necessidade com a necessidade de respeitar os direitos humanos de todos os cidadãos. Também é crucial que essas medidas sejam concebidas e implementadas de acordo com o Estado de Direito, com escopo e duração limitados, e sujeitas a supervisão e revisão judicial. As forças de segurança que executam essas medidas devem respeitar os padrões internacionais — e serem responsabilizadas quando não o fazem. Sem esses limites, temos visto como a exceção pode se tornar a regra; como os esforços destinados a proteger os cidadãos de uma ameaça podem deixá-los vulneráveis ​​a outra.

O presidente Lasso me assegurou que seu governo está empenhado em defender esses padrões, tão importantes para o povo equatoriano e seus valores democráticos. E deixei claro que manter esses padrões também é uma prioridade para os Estados Unidos.

O terceiro desafio é concentrar nossas democracias no enfrentamento dos desafios econômicos e sociais com os quais o nosso povo se depara. Pois bem, isso deveria ser óbvio, mas a realidade é que muitas vezes colocamos mais energia no fortalecimento dos direitos civis e políticos, por mais vitais e importantes que sejam — eleições livres e justas, o Estado de Direito, liberdade de expressão e reunião — e menos no fortalecimento dos direitos econômicos e sociais das pessoas, como reforçar os padrões de trabalho, expandir o acesso a educação e saúde adequadas, e oferecer oportunidades mais inclusivas. Pessoas em nosso hemisfério estão exigindo que façamos as duas coisas, e os Estados Unidos atendem a esse apelo.

Essa é a ideia por trás dos esforços do presidente Biden para fazer um investimento único em nossas famílias trabalhadoras. É a ideia que impulsiona os enormes investimentos que os Estados Unidos estão fazendo para melhorar a vida e o bem-estar das pessoas nas Américas. Desde 2020, já investimos mais de US$ 10 bilhões na América Latina e no Caribe por meio da Corporação Internacional de Financiamento do Desenvolvimento dos EUA. Isso, por sua vez, alavanca mais bilhões em investimentos do setor privado. Aqui no Equador, por exemplo, estamos trabalhando com o Banco de la Produccion a fim de catalisar US$ 150 milhões em empréstimos para pequenas empresas. Sabemos pela nossa experiência, pela sua experiência, que as pequenas empresas são o principal motor de crescimento e a melhor forma de dar empregos às pessoas.

E não estamos apenas realizando esses investimentos. Estamos fazendo isso de forma que seja transparente; que trate as comunidades locais como parceiras, em vez de atolá-las em um ciclo pernicioso de dívidas; que seja sustentável para o meio ambiente, em vez de extrativista; e que respeite os direitos trabalhistas e humanos.

Fazer esse tipo de investimento ajuda a romper o mito que os governos autoritários gostam de falar sobre si mesmos: que são melhores em atender às necessidades básicas das pessoas. Os autocratas oferecem às pessoas uma escolha falsa: ou se pode ter direitos civis e políticos básicos ou se pode ter um padrão de vida mais alto. Mas, apesar de todas as promessas que os autocratas têm feito sobre a melhoria do bem-estar das pessoas, seu histórico, isso conta uma história diferente.

Mas só porque as democracias podem ter um desempenho melhor no hemisfério não significa que estamos tendo um desempenho suficientemente bom para nosso povo.

Isso é especialmente verdadeiro para populações desassistidas. A discriminação profunda e duradoura é predominante em nossas democracias. As raízes dessa injustiça são profundas, remontam à escravidão e à colonização. E a história dos Estados Unidos está inextricavelmente ligada a essa história, de maneiras que são humilhantes, por causa do papel que nossa nação desempenhou em perpetuar a exploração e o racismo e, ao mesmo tempo, inspiradoras, por causa de gerações de americanos, incluindo muitas pessoas hoje, que têm dedicado suas vidas ao combate do legado horrendo do racismo e todas as formas de discriminação.

O racismo torna as democracias menos prósperas, menos estáveis, menos equitativas. Ele fomenta a polarização e a desconfiança. E rouba às democracias a força, a inovação e a criatividade que podem ser extraídas de comunidades e locais de trabalho diversificados e inclusivos. Requer um esforço conjunto e urgente por parte de todas as nossas comunidades e instituições com o objetivo de enfrentar esse desafio. Incluindo instituições governamentais como a que lidero, onde uma de minhas principais prioridades no Departamento de Estado é garantir que nossos diplomatas sejam reflexo dos Estados Unidos em toda a sua notável diversidade. Nossa política externa será melhor em virtude disso também.

A Universidade San Francisco de Quito tem algo, creio eu, a nos ensinar sobre isso. Desde a fundação desta instituição, a universidade fez da promoção da equidade e da inclusão uma parte central de sua missão. Todos os anos, a universidade possibilita que centenas de estudantes indígenas e afro-equatorianos estudem aqui, grupos tradicionalmente sub-representados no ensino superior devido ao subdesenvolvimento crônico e ao acesso desigual a oportunidades. Cada aluno que frequenta esta universidade obtém uma educação melhor graças a seu corpo discente mais diversificado.

Portanto, embora vejamos desafios reais em nossas democracias, também não temos dúvidas sobre a melhor maneira de enfrentá-los. É colocar esses problemas às claras e trabalhar em conjunto, inclusive com pessoas com as quais vocês nem sempre concordam — essa é a maneira de corrigi-los. Essa sempre foi a maior força da democracia: a capacidade de melhorar a si mesma.

Nos Estados Unidos, temos como base o princípio básico de que nossa missão nacional é formar uma união mais perfeita. E, por definição, isso é um reconhecimento de que não somos perfeitos e nunca seremos, mas nos esforçaremos para corresponder o que fazemos aos ideais de nossos fundadores.

Não enfrentamos nenhuma ameaça que uma democracia melhor, democracia mais [plena], não possa resolver — nenhum desafio em que um sistema fechado faria melhor para as pessoas do que um aberto.

E apesar de todos os desafios que as democracias enfrentam, acho que temos motivos para estarmos otimistas. Particularmente em nosso hemisfério, onde temos um grupo profundamente integrado de parceiros que não apenas compartilham nossos valores, mas também estão unidos pela cultura e pela comunidade, e onde somos abençoados com uma riqueza notável de recursos naturais e biodiversidade, desde que os protejamos.

Mas, acima de tudo, creio que devemos ser otimistas por causa de nosso povo: cidadãos no coração da democracia. Olhem para o progresso de qualquer uma de nossas democracias ao longo do tempo e observarão, reiteradamente, que tem sido conduzido não por governos, mas por pessoas comuns. Mulheres e homens, muitas vezes jovens, muitas vezes com muito a perder, que estavam empenhados em melhorar a vida de suas famílias e comunidades. Essas são as pessoas que consistentemente reduziram a lacuna entre o que as democracias prometem e o que cumprem.

Temos todos os motivos para acreditar que os cidadãos continuarão a fazê-lo. A história recente do Equador mostra que isso é verdade. O mesmo acontece com nossa experiência nos Estados Unidos, onde nossa democracia também tem sido testada.

E apesar de todas as suas frustrações com a democracia, a maioria das pessoas no hemisfério compartilha dessa opinião. Cerca de 63% das pessoas na América Latina ainda acreditam que a democracia é o melhor sistema de governo, em comparação com 13% que pensam assim sobre governos autoritários.

De fato, algumas pessoas olham para protestos e movimentos de massa que criticam governos democráticos nas Américas ou em outros lugares e veem isso como um sinal de que a democracia está em declínio. Eu vejo isso como um sinal da força da democracia. Vejo pessoas que acreditam o suficiente em seu sistema para tentar consertá-lo.

Nosso maior risco não é que nossos cidadãos sejam demasiadamente críticos da democracia, mas sim que parem de se preocupar com ela. Que eles desistam.

E é por isso que estou confiante no futuro da democracia nas Américas. Porque temos os indivíduos mais extraordinários trabalhando para melhorar o sistema.

Pessoas como Diana Salazar Méndez. Ela foi criada ao norte daqui, em Ibarra, por uma mãe solteira, que lhe ensinou desde cedo a importância de servir à sua comunidade e — acima de tudo — a integridade. Diana pagou por sua universidade, trabalhando durante o dia e à noite, escrevendo sua tese sobre o tráfico humano de migrantes africanos no Equador.

Ela disse que se sentiu atraída pelo trabalho de justiça social porque o tinha no sangue. Seu tio foi impedido de seguir a carreira militar porque era afro-equatoriano. E depois que ela terminou seus estudos de Direito, Diana foi preterida várias vezes para nomeações como promotora pelo mesmo motivo.

Mas ela se manteve firme e, ao final das contas, conseguiu seu primeiro emprego e, desde então, dedica sua carreira à responsabilização de pessoas poderosas por seus atos. Máfias. Políticos, incluindo ex-presidentes. Empresários. Ela foi difamada, ameaçada e, certa vez, quase se perdeu no mar em uma operação para interceptar traficantes de drogas. Mas ela se recusou a ser intimidada. Questionada sobre o motivo, ela disse: “El que tiene la verdad no debe tener miedo.” “Quem tem a verdade não deve ter medo.” (em tradução livre)

Hoje, Diana é, obviamente, a procuradora-geral do Equador. [Aplausos.]

E pessoas como Nina Gualinda, líder da comunidade indígena kichwa do Equador. Em 2001, Nina tinha apenas oito anos quando uma empresa petrolífera veio perfurar um terreno na Amazônia onde ela e sua família moram. Sua mãe e sua tia lideraram a comunidade na oposição ao projeto e sofreram constantes ameaças e ataques por seus esforços. Mas elas continuaram resistindo — por meio de desobediência civil, organização, desafios legais — ensinando Nina sobre defesa de direitos.

Quando, após uma década, o caso de sua comunidade finalmente foi encaminhado à Corte Interamericana, Nina, aos 18 anos, discursou na audiência em nome da comunidade. O tribunal decidiu que o Equador deve consultar as comunidades indígenas antes de licenciar empresas petrolíferas para que estas realizem negócios em suas terras. Quase uma década depois, Nina ajudou a liderar um grupo de mulheres indígenas na coleta de mais de 250 mil assinaturas exigindo que o governo investigasse os ataques sistêmicos contra mulheres defensoras da Amazônia. O abaixo-assinado foi entregue à procuradora-geral do Equador, Diana Salazar.

Imaginem o quanto é improvável que as trajetórias dessas duas mulheres extraordinárias se cruzassem. Uma afro-equatoriana, uma vez preterida para um emprego de promotora de nível básico por ser negra. Uma líder indígena cuja luta para dar oportunidade de participação à sua comunidade acerca de seu futuro começou ao ver sua comunidade invadida quando era uma menina de 8 anos.

E ainda assim, seus caminhos se cruzarem é emblemático da força singular das democracias a serem moldadas por indivíduos. Uma trabalhando de dentro do governo, a outra de fora, mas ambas advindas de lugares onde muitas probabilidades estavam contra elas. A democracia funciona — ela evolui, ela se aprimora — por causa de pessoas como Diana e Nina. Pessoas que vivenciam, em primeira mão, as consequências de um sistema que não funciona da maneira que deveria, que veem a lacuna entre os princípios das democracias e suas práticas, e decidem dedicar suas vidas para melhorá-lo mesmo assim — para pessoas como elas, e para gerações vindouras.

E funciona porque elas não desistem. Elas defendem tenazmente cada centímetro do progresso que já foi conquistado, sabendo que as forças que buscam enfraquecer a democracia são igualmente implacáveis. Os autocratas nunca vão parar de conspirar a fim de tomar o poder; o corrupto nunca vai parar de procurar maneiras de lucrar às custas dos outros. Basta olharmos em volta.

É por isso que é tão importante que cada um de nós, particularmente as novas gerações, todos vocês, permaneçam engajados e consigam que outros se juntem a nós. Porque essa é a questão da democracia — é um projeto que nunca termina.

E enquanto nossas sociedades permitirem que pessoas como Nina e Diana melhorem o sistema de dentro para fora, podemos ter certeza de que a democracia não apenas perseverará, mas prevalecerá.

Muito obrigado. Gracias a todos. Obrigado.

[Aplausos.]


Veja o conteúdo original: https://www.state.gov/making-democracy-deliver-for-the-americas/

Esta tradução é fornecida como cortesia e apenas o texto original em inglês deve ser considerado oficial.

U.S. Department of State

The Lessons of 1989: Freedom and Our Future